Preencher espaços... esse é o nosso grande dilema. Talvez porque tanta coisa tenha sido preenchida tecnologicamente. E isso criou novas e novas expectativas. E enormes espaços vazios em nossas vidas vazias. Não vazias de trabalho, preocupações, correria, receios... Mas de sentido... E os espaços são muitos... Imperceptíveis, tantas vezes... buracos negros, outras tantas...
E aí nos deparamos com um armário deixado jogado às traças por semanas, só para se ter motivo de arrumá-lo para preencher o espaço do tempo... ou à espreita de uma ligação que não acontece... de alguém perdido há muito, trazido à tona do passado, só pra preencher o insistente e dolorido espaço da lembrança... ou nos atolamos no trabalho, esgotamos as possibilidades do nosso tempo, nos escondendo de outros espaços vazios, becos e cantos escuros, aos quais pouco nos remetemos com medo de descobri-los de novo, tão grandes, impreenchíveis...
E como são vazias as tardes... as madrugadas... neutras, insondáveis, insistentes em nos mostrar que estamos sós... Infinitos os espaços da solidão... espaços da alma... Falar deles é quase um sacrilégio. Mas preciso se faz. Precisa também é a necessidade de preenchê-los... tempo vão... De novo e de novo tornam-se vazios ... maiores quando temos plena noção do que são...
Vez ou outra, em momentos furtivos, compartilhamos espaços (vazios?) com iguais... cada um com suas carências... Únicas!... completamente iguais... múltipas carências em troca. E perdemos por segundos-luz a sensação do vazio...
Com o passar dos anos... a gente vai percebendo que os vazios vão se incorporando à gente... tornando-se companheiros... Aprendemos a conviver com eles - Ironicamente... somos preenchidos por eles - nossos espaços... cheios de nós mesmos...