segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Vazios que nos preenchem


Preencher espaços... esse é o nosso grande dilema. Talvez porque tanta coisa tenha sido preenchida tecnologicamente. E isso criou novas e novas expectativas. E enormes espaços vazios em nossas vidas vazias. Não vazias de trabalho, preocupações, correria, receios... Mas de sentido... E os espaços são muitos... Imperceptíveis, tantas vezes... buracos negros, outras tantas...

E aí nos deparamos com um armário deixado jogado às traças por semanas, só para se ter motivo de arrumá-lo para preencher o espaço do tempo... ou à espreita de uma ligação que não acontece... de alguém perdido há muito, trazido à tona do passado, só pra preencher o insistente e dolorido espaço da lembrança... ou nos atolamos no trabalho, esgotamos as possibilidades do nosso tempo, nos escondendo de outros espaços vazios, becos e cantos escuros, aos quais pouco nos remetemos com medo de descobri-los de novo, tão grandes, impreenchíveis...

E como são vazias as tardes... as madrugadas... neutras, insondáveis, insistentes em nos mostrar que estamos sós... Infinitos os espaços da solidão... espaços da alma... Falar deles é quase um sacrilégio. Mas preciso se faz. Precisa também é a necessidade de preenchê-los... tempo vão... De novo e de novo tornam-se vazios ... maiores quando temos plena noção do que são...

Vez ou outra, em momentos furtivos, compartilhamos espaços (vazios?) com iguais... cada um com suas carências... Únicas!... completamente iguais... múltipas carências em troca. E perdemos por segundos-luz a sensação do vazio...

Com o passar dos anos... a gente vai percebendo que os vazios vão se incorporando à gente... tornando-se companheiros... Aprendemos a conviver com eles - Ironicamente... somos preenchidos por eles - nossos espaços... cheios de nós mesmos...


terça-feira, 8 de setembro de 2009

Uma geração sem ídolos



Trabalhar com adolescentes me dá a dimensão total do que foi o mundo em que vivi há exatos 25 anos atrás... Éramos menos alienados, não por excesso de informação, mas por pura consciência... vivíamos mais... entregues a um mundo onde ainda se permitia andar nas ruas até horas adiantadas e sorrir de volta pra um desconhecido sem correr o risco de estar se expondo demais.

Fomos uma geração mais cor de rosa, menos noturna, mais cinema no sábado à tarde, festinhas dançantes na casa de amigos, mais clube da esquina e sorvete na São Domingos...

Não recebíamos notícias imediatas na hora do fato ocorrido, não falávamos com nossos amigos em frações de segundos, não colocávamos em diários eletrônicos nossas últimas ações... mas sabíamos de Fidel, Che, AI5, Caetano e Chico e assistíamos à buzina do Chacrinha... e não a realities shows e outros programas abusivos da natureza humana... ouvíamos músicas de protesto... mas também muito rock... bossa nova...músicas tocadas no violão no fim de tarde na casa de alguém da turma...

Tínhamos Airton Senna, Tom Jobim, Michel Jackson, Beatles, Janis Joplin e tantos outros que nos deram um gosto apurado por coisas boas... eram reais e não covers... acreditávamos em um mundo mais terra, menos tecnológico... aquecimento global era tão ficção como o romance de George Orwell... e a palavra natureza não gerava polêmica... era tudo natural... fácil... acessível... tínhamos noção da lua como nosso satélite e não pensávamos que um dia tudo seria monitorado por tantos outros artificiais....

Paquerávamos um pouco mais timidamente ou talvez nem isso... dançávamos de rostos colados... e ficar era um verbo conjugado no seu sentido real e possivelmente esperávamos que um flerte durasse mais que algumas horas... acreditávamos em amor livre, mas sonhávamos com amor eterno...

Foram tempos deliciosos... totalmente distantes dessa parafernália da qual somos vítimas voluntárias neste nosso agora... Ainda há aqueles que se negam a ter uma conta de e-mail, deixar de lado o vinil e passear por aí com um aparelho moderno de telefone celular... a esses rendo homenagens ou desejo que procurem urgentemente ajuda psicológica...

O que sei é que apesar dessa geração moderna do século XXI... cercada de utilidades – hiper...supernecessárias - inimagináveis no “nosso tempo”... os nossos jovens de hoje curtem o rock dos nossos anos... consagram nossas ideias... referenciam os nossos ídolos... e sentem a nostalgia de um tempo que nunca conheceram...

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Para aquele que não passou...

O mais importante de você é que você é.

Quando a linha do fim alinhava-se à linha da possibilidade não há passado. Não há tempo, não há sensatez, nem racionalidade que me faça pôr fim a você. Você é atemporal e isso o faz ser sempre. Impregnada de você, vou seguindo e vou responder a seus apelos, os mínimos que sejam, e vou enxergar você na música e ouvir você nas coisas. Porque você me é insaciável. E os espaços... serão preenchidos? Em nada ninguém substituirá o que você é... foi. O seu nome , em qualquer lugar, usado por outro ou não, será sempre seu. Som olfativo que me traz à boca um gosto de algo que quero esquecer... quero esquecer?

De tudo que vivi. Separações e perdas... Tempestades e crises... Felicidades supremas... Alegrias pontuais... Tristezas no fundo do estômago... Você não se define. É tudo que me importuna... e que me acalenta... Eu sei...o tempo tornará você brando... Fa-lo-á distante, sem rosto, sem gosto, lembrança. Assustarei um dia com sua imagem na minha retina, insistente em não se perder, mas sem contornos claros. Será você ainda...ainda assim...

Cruel isso tudo. Mais cruéis as histórias porque elas se cruzam e se intercruzam. E em alguma rua a gente se encontra. Então fecharei os olhos para prendê-lo ainda na memória. Para não confundir você com você. É insuportável deixar entrar de novo na minha vida... assim de repente... aquele que não passou...

Que fique tudo como está... Desapareça para sempre este você concreto! Real!... a sua lembrança é o que eu quero... sou apaixonada sim... mas por quem existe em mim... aquele que não passou... você? Este que me aparece sorrindo de novo em um momento inoportuno? Não sei quem é...

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Respostas a perguntas que nunca serão feitas

O porquê de um blog...

Eu e minha vontade de falar...
Não tenho o dom da palavra... nem sou dona da verdade... porque hoje o que mais sei é que verdades são relativas... mas resolvi criar esse espaço para, publicamente, palavrear... porque a palavra só existe como comunicação quando é lançada ao vento...


Fazer-se de difícil não torna ninguém mais interessante... os opostos não se atraem, mesmo porque nem se cruzam... ninguém é mais livre só porque decide estar só...

Mulheres são complicadas quando mal entendidas... o prazer de um não é o desprazer do outro... nem sempre um está errado, quando o outro está certo... nem toda mentira será um dia revelada...

Depois da tempestade nem sempre vem o tempo de paz... um raio cai várias vezes no mesmo lugar desde que você insista em atraí-lo... entre quatro paredes vale o que os dois quiserem... até que a morte os separe e felizes para sempre não combinam...

Respostas a perguntas que nunca serão feitas


Um dia alguém levanta da sua cama às quatro horas da manhã e diz que o relacionamento não está dando certo... Você sorri... Não porque está feliz... Mas porque não acredita no non sense que a situação propõe... E a pergunta insistente ainda é: por quê?

Não há resposta... Por que haveria?... É só a vida... E esse medo que assalta por vezes homens e mulheres de uma geração estranha que se acostumou a viver só... Medo do compromisso?... Pouco demais pra ser uma resposta... Restam perguntas... Mas que nunca serão feitas...

Que medo é esse de ser feliz?... Que desejo é esse de não se envolver?... Que envolvimento é esse, permitindo-se somente sentimentos fulgazes?... Que sentimento é esse de saber-se livre exclusivamente quando se está só?.... Que liberdade é essa que se busca em meio às prisões de uma vida ermitã?....

Ninguém quer resposta... É doloroso demais ver-se assim tão impotente a ponto de não ser capaz de optar por viver intensamente...

Sentimentos comedidos perdidos em meio a beijos em bocas desconhecidas... é mais seguro assim... não saber quem é o outro... uma boca... um sorriso inexpressivo ... um número de telefone deletado nas primeiras horas do dia seguinte... um nome sem rosto adicionado aos contatos de uma agenda telefônica em um chip sem emoção...

Noites sem prazer ao invés do corpo escolhido...quente que tanto se encaixa ao seu... protótipo de uma felicidade assustadora...

Planos feitos na surdina para serem arquivados na memória ao lado de pensamentos felizes, mas que, por motivos inexplicáveis, devem ser esquecidos pra não se ter um dia o contato com uma realidade tão deliciosa que traga a dor do arrependimento de nunca ter sido permitida...

Closer... e oportunidades se perdem... porque estar perto demais de ser feliz traz uma dor lascinante.... melhor essa vidinha mais ou menos ... do pouco.... do morno.... da zona de conforto... sem grandes emoções... mas sem dores de alma.... sem este espasmo profundo que é amar alguém até as últimas consequências....

As perguntas se calam talvez sejam incômodas demais...

Calem-se também todas as bocas e os pensamentos.... as consciências... as vontades...

Tranquem-se em suas casas.. escondam-se dos espelhos...ofusquem os brilhos que ainda cismem em aparecer ao vislumbrar os olhos de quem se quer...

Deixem romances pra filmes hollywoodianos em que os finais felizes, distantes, não incomodem tanto a nós, pobres mortais....

Talvez seja esse mesmo nosso século de vanguarda.... pensar que sentimentos devem ser omitidos, burlados, boicotados... para que não se tenha nunca a certeza da felicidade repentina ao descobrir o quanto podemos ser quando nos encontramos inteiros junto do outro...